No passado dia 15 de Junho de 2007, Ivone De Franceschi anunciou na sua Pádua natal, em conferência de imprensa, a sua retirada do futebol profissional.
Motivo: um grave problema coronário. Após uma série de exames, os médicos descobriram uma malformação congénita de uma das coronárias principais do coração, havendo o risco de uma parte do músculo miocárdio poder comprimir a coronária e provocar isquemia (i.e., interrupção do fluxo sanguíneo, impedindo a nutrição dos tecidos) podendo causar um enfarte ou um AVC.
A vida é pródiga neste tipo de ironias. Fora por causa do “coração” que De Franceschi retornara a Pádua para jogar pelo clube local, o Calcio Padova 1910, a meio da época de 2004/05. A intenção do jogador era a de ajudar o “seu” clube, que se encontrava na Serie C (equivalente à 2.ª Divisão B portuguesa, ou, se preferirem, a terceira divisão), o que não conseguiu, para sua frustração, apesar de ter a consolação de terminar a carreira (ainda que de forma abrupta e inesperada) como capitão da sua equipa.
Foi o fim de um ciclo que começara precisamente aí, onde jogou nas épocas de 1992/93 (nas camadas jovens) a 1997/98, com empréstimos em 1994/95 e 1995/96 pelo Sandonà e Rimini, respectivamente, épocas que coincidiram com os seus primeiros anos de profissional.
Em 1998/99 tentou a sua sorte no Venezia, onde procurou corresponder às expectativas que depositaram nele desde muito novo, no Padova, quando lhe atribuíam o estatuto de estrela e de jovem prodígio de uma equipa que contava nas suas fileiras com…Alessandro Del Piero.
Mais uma vez, não encontrou a felicidade na célebre cidade italiana e, em 1999/2000, chega ao Sporting, por empréstimo do Venezia. Fora recomendado pelo então (ainda) treinador transalpino Giuseppe Materazzi. Vinha em recuperação de uma lesão e para ocupar a posição (em falta) de extremo esquerdo. E foi no Sporting que De Franceschi amealhou o único título do seu palmarés.
Muito se falou das contratações de Inverno do Sporting dessa época (André Cruz, Mbo Mpenza e César Prates) e de como foram fulcrais, a par da veia goleadora de Beto Acosta, para a conquista desse memorável título. Porém, na minha opinião, sempre vi De Franceschi, pela forma como fazia dupla na “asa” esquerda com Rui Jorge, pela sua postura táctica irrepreensível e pelas suas assistências com cruzamentos perfeitos, como uma peça muito importante dessa equipa leonina, talvez a última que utilizou extremos…
De Franceschi estreou-se em Alvalade no primeiro jogo que Augusto Inácio fez para o campeonato como treinador principal. Uma vitória importante à 6.ª jornada (frente ao Boavista) na qual teve papel fulcral, ao estar na origem do lance que deu origem ao penalty convertido por Acosta no 2-0 final (após Delfim ter efectuado o 1-0 num “tiro” de longe). A partir daí De Franceschi “pegou de estaca” e terminou a época contribuindo para o título com 3 golos marcados em 25 jogos e inúmeras assistências. Foi finalista da Taça de Portugal, onde o Sporting apenas foi batido na finalíssima pelo FC Porto, tendo eliminado o Benfica na sua casa, nos oitavos-de-final, jogo em que De Franceschi também esteve endiabrado.
Em entrevista que deu ao n.º 117 da revista Calcio 2000, De Franceschi fala da época de leão ao peito da seguinte forma: «Uma coisa indescritível. Todos consideram o campeonato português de segundo nível e por causa disso as atenções dirigem-se todas para Itália, Espanha, Inglaterra e Alemanha. Mas o Sporting é um pouco a Juve de Portugal. Tem 50.000 espectadores e, na madrugada após a vitória do título, estavam no estádio “José Alvalade” 80.000 pessoas para festejar. Era o primeiro italiano a jogar em Portugal e a conquistar um campeonato que perseguiam em Lisboa há 18 anos. Vivi pessoalmente aquilo que o Inter viveu em Itália depois de 18 anos de jejum».
Por desacordo de verbas entre Venezia e Sporting, De Franceschi não continuou. A época 2000/01 foi cumprida metade em Veneza, metade em Salerno, onde envergou a camisola do Salernitana. A época seguinte, 2001/02, foi mais feliz ao serviço do clube veneziano (29 jogos, 1 golo), o que lhe permitiu a transferência para o Chievo Verona, onde mais uma vez encontrou a infelicidade, devido às lesões, tendo cumprido em época e meia (2002/03 e metade de 2003/04) um total de 8 jogos e 2 golos (6 jogos/2 golos e 2 jogos/0 golos, respectivamente), sendo novamente emprestado ao Bari (15 jogos/1 golo).
Regressou a Verona e ao Chievo para cumprir apenas metade da época de 2004/05 (tendo efectuado com o Chievo, em Alvalade, o jogo de apresentação do Sporting dessa época) e seguir o “apelo do coração” regressando ao “seu” Padova, na tentativa de o ajudar na subida de divisão.
Não o vai poder fazer em campo, mas como os sonhos perseguem-se e não se trai o coração (mesmo que ele nos traia a nós) Ivone De Franceschi dará o contributo ao clube padovano como Team Manager, na tentativa de fazer nos corredores da societá com sede na viale Nereo Rocco aquilo que não conseguiu fazer em campo.
Porque no Sporting não esquecemos quem tão dignamente envergou a camisola verde-e-branca: felicidades para De Franceschi nesta nova aventura!
Grazie tante Ivone De Franceschi. Rimarrai sempre nei nostri cuori.
2 comentários:
Sono un appassionato di calcio, giornalista italiano, grande fan di De Franceschi. Allo Sporting Lisbona ha dato il massimo, è stato un campionato bellissimo con la vittoria dello scudetto. Un grande talento in coppia con Del Piero nelle giovanili del Padova, la squadra della sua città. Ora è un promettente dirigente sportivo.
Forza Portogallo, forza Sporting Lisboa
hoje dia 1 Ivone de Franceschi faz 40 anos, muitos parabéns,
que saudades do seu estilo inconfundível, Sporting sempre
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