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(foto: Record)
O actual presidente do Sporting, Filipe Soares Franco, desdobrou-se numa série de entrevistas, com particular destaque para as da última sexta-feira (ora mais “generalista” no DN, ora mais “financeiro” no DE, ora mais “desportivo” no Record).
É aqui que faz manchete o título deste post (daí as aspas) e é por causa dele que não posso deixar de escrever umas linhas, depois de muito reflectir, para conseguir tentar ser o mais objectivo possível.
Noto no presidente do Sporting, pelo menos no que respeita à “vertente desportiva” uma maior objectividade e, quiçá, uma maior franqueza no seu discurso. Levou muito tempo para que, publicamente, assumisse certos aspectos da vida do clube. Mas agora que o fez, sinto-me compelido a dizer duas ou três coisas sobre a «crise de militância» que Soares Franco reconhece existir (a qual é, aliás, evidente), sem querer prejudicar o “estudo da situação” que, segundo diz, o Sporting está, actualmente, a fazer.
Desde que terminou o mandato de Sousa Cintra e teve início o denominado «Projecto Roquette», ainda que encabeçado por Pedro Santana Lopes, que o Sporting deixou de ter um presidente emotivo, aglutinador da massa associativa. Terminou aí, enfim, a era da «presidência populista».
Era quase uma exigência da altura, a reivindicação por uma gestão profissional e ganhadora. Foi com essa imagem e sob essa “bandeira” que José Roquette assumiu posição de destaque no clube e apresentou o seu “projecto” que se intitulava de rigoroso, transparente e profissional. Com essa mudança de política, o discurso institucional do Sporting mudou. A frieza do “economês” entrou progressivamente no léxico sportinguista.
A criação das SAD’s eram um imperativo. A gestão societária e profissional daquilo que se veio a designar por «Grupo Sporting» uma necessidade. A extinção de algumas das (já então) deficitárias modalidades (ditas) amadoras uma inevitabilidade. Seria dar um passo atrás para, a médio prazo, o Sporting dar dois passos em frente…
A pouco e pouco, a “frieza” do passivo passou a arrefecer o “calor” da emotividade do adepto sportinguista: o emblema foi mudado; o Sporting passou a ser uma “marca”; os jogadores começaram a ser intitulados de “activos” e deixaram de ser “ídolos”; os campos de treinos mudaram-se para quilómetros de distância do “coração” do Sporting; o estádio foi mudado pelas razões que todos sabemos; o pavilhão desapareceu por causa da reformulação do projecto do estádio por causa do Euro 2004.
Desde Santana Lopes (95-96) a Filipe Soares Franco (desde 20 de Outubro de 2005), a presidência da direcção do clube (esquecendo propositadamente a presidência dualista clube/SAD na altura de José Roquette, com Luís Duque) foi sendo ocupada por José Roquette (96-2000) e Dias da Cunha (2000-05). O processo de sucessão foi muito pouco democrático – ou cooptação (outra nova palavra do “léxico leonino”) ou eleições de lista única, sendo a única excepção as últimas eleições que contaram com a lista de Abrantes Mendes.
Em suma: aquilo que, em devido tempo, foi designado, em Portugal, por «evolução na continuidade»…
Com todo este ideário comum às várias presidências leoninas, o Sporting foi progressivamente afastando-se dos sócios e adeptos. Mudou-se a identidade do clube em quase todas as vertentes da ligação emocional do adepto ao clube: emblema, estádio, ídolos…até que o adepto e o sócio passaram a ser vistos como clientes.
E 13 anos passaram até Filipe Soares Franco vir dizer ao Record que «há uma coisa que falha: a ligação emocional da família leonina ao Sporting. Se estivesse a funcionar, estavam cá, pois estamos perante uma actividade que tem tudo de paixão». 3 anos da sua presidência decorreram para Filipe Soares Franco descobrir uma evidência: «…não temos conseguido passar o calor da mensagem e pôr a família sportinguista a gostar de viver as emoções no estádio. O sócio distante do estádio preocupa-me. Não encontro explicação para que o Sporting não meta mais gente em Alvalade...».
Apetece-me dizer como no velho adágio: «mais vale tarde que nunca». Mas digo mais. A razão para a «crise de militância», para o falhanço da «ligação emocional», foram estes anos de sucessivas “machadadas” na alma do adepto, na ligação que ele tinha ao clube e na forma como ele o sentia e se identificava. Foi a promessa falhada de 3 campeonatos em cada 5 anos, mas foi, sobretudo, o tratamento indigno (os exemplos seriam muitos) a que as sucessivas direcções votaram a massa associativa do Sporting que, ao frio, à chuva e ao sol, sofreu estoicamente enchendo o antigo estádio, vibrando a cada jogo decisivo, achando no mais fundo da alma sportinguista o ânimo para, segunda após segunda, mês após mês, Natal após Natal e época após época, encontrar sempre a esperança num ciclo melhor, descobrir sempre um optimismo renovado e a fé em tempos melhores, sofrendo na pele muitas desilusões provocadas pelo domínio obscuro e sub-reptício de um clube personificado por um presidente com quem Filipe Soares Franco negoceia, acha que tem relações de boa-fé (Moutinho e Vukcevic) e até dá grandes gargalhadas em pleno Alvalade...
Agora, esse adepto do Sporting deu um “basta” e, numa época em que todos os indicadores não o faziam esperar (manutenção dos jogadores principais, política de contratações coerente e objectivo claro e inequívoco da luta pelo título e boas possibilidades de melhor percurso nas competições europeias), os adeptos do Sporting souberam porque fica(ra)m em casa: porque lhes atiraram com demasiada água para a fogueira da sua paixão!
Filipe Soares Franco, apesar de não ter entendido (ou não ter querido entender) a razão para a «crise de militância», achando que «realizámos o projecto mas, até agora, não conseguimos fazer passar bem a mensagem de que queremos crescer», analisou na perfeição a situação que vivemos e extraiu a conclusão correcta quanto à responsabilidade por essa situação: «…da organização interna do Sporting, da direcção e, em última instância, do seu presidente»…
Quando Filipe Soares Franco fala em jogos ao meio-dia como uma iniciativa a experimentar, deveria dizer que ela lhe fora proposta por sócios do Sporting há mais de 1 ano. Quando Filipe Soares Franco fala em modalidades amadoras e pavilhão tentando mentalizar os sócios para não ter umas nem outro, deveria ter em mente algo muito importante para a avaliação da tal «crise de militância» - os sportinguistas não estão a pedir para lhes darem algo, os sportinguistas estão a exigir que lhes devolvam aquilo que lhes tiraram: a paixão por um clube ecléctico e de todos os sportinguistas sem distinção!
O actual presidente do Sporting, Filipe Soares Franco, desdobrou-se numa série de entrevistas, com particular destaque para as da última sexta-feira (ora mais “generalista” no DN, ora mais “financeiro” no DE, ora mais “desportivo” no Record).
É aqui que faz manchete o título deste post (daí as aspas) e é por causa dele que não posso deixar de escrever umas linhas, depois de muito reflectir, para conseguir tentar ser o mais objectivo possível.
Noto no presidente do Sporting, pelo menos no que respeita à “vertente desportiva” uma maior objectividade e, quiçá, uma maior franqueza no seu discurso. Levou muito tempo para que, publicamente, assumisse certos aspectos da vida do clube. Mas agora que o fez, sinto-me compelido a dizer duas ou três coisas sobre a «crise de militância» que Soares Franco reconhece existir (a qual é, aliás, evidente), sem querer prejudicar o “estudo da situação” que, segundo diz, o Sporting está, actualmente, a fazer.
Desde que terminou o mandato de Sousa Cintra e teve início o denominado «Projecto Roquette», ainda que encabeçado por Pedro Santana Lopes, que o Sporting deixou de ter um presidente emotivo, aglutinador da massa associativa. Terminou aí, enfim, a era da «presidência populista».
Era quase uma exigência da altura, a reivindicação por uma gestão profissional e ganhadora. Foi com essa imagem e sob essa “bandeira” que José Roquette assumiu posição de destaque no clube e apresentou o seu “projecto” que se intitulava de rigoroso, transparente e profissional. Com essa mudança de política, o discurso institucional do Sporting mudou. A frieza do “economês” entrou progressivamente no léxico sportinguista.
A criação das SAD’s eram um imperativo. A gestão societária e profissional daquilo que se veio a designar por «Grupo Sporting» uma necessidade. A extinção de algumas das (já então) deficitárias modalidades (ditas) amadoras uma inevitabilidade. Seria dar um passo atrás para, a médio prazo, o Sporting dar dois passos em frente…
A pouco e pouco, a “frieza” do passivo passou a arrefecer o “calor” da emotividade do adepto sportinguista: o emblema foi mudado; o Sporting passou a ser uma “marca”; os jogadores começaram a ser intitulados de “activos” e deixaram de ser “ídolos”; os campos de treinos mudaram-se para quilómetros de distância do “coração” do Sporting; o estádio foi mudado pelas razões que todos sabemos; o pavilhão desapareceu por causa da reformulação do projecto do estádio por causa do Euro 2004.
Desde Santana Lopes (95-96) a Filipe Soares Franco (desde 20 de Outubro de 2005), a presidência da direcção do clube (esquecendo propositadamente a presidência dualista clube/SAD na altura de José Roquette, com Luís Duque) foi sendo ocupada por José Roquette (96-2000) e Dias da Cunha (2000-05). O processo de sucessão foi muito pouco democrático – ou cooptação (outra nova palavra do “léxico leonino”) ou eleições de lista única, sendo a única excepção as últimas eleições que contaram com a lista de Abrantes Mendes.
Em suma: aquilo que, em devido tempo, foi designado, em Portugal, por «evolução na continuidade»…
Com todo este ideário comum às várias presidências leoninas, o Sporting foi progressivamente afastando-se dos sócios e adeptos. Mudou-se a identidade do clube em quase todas as vertentes da ligação emocional do adepto ao clube: emblema, estádio, ídolos…até que o adepto e o sócio passaram a ser vistos como clientes.
E 13 anos passaram até Filipe Soares Franco vir dizer ao Record que «há uma coisa que falha: a ligação emocional da família leonina ao Sporting. Se estivesse a funcionar, estavam cá, pois estamos perante uma actividade que tem tudo de paixão». 3 anos da sua presidência decorreram para Filipe Soares Franco descobrir uma evidência: «…não temos conseguido passar o calor da mensagem e pôr a família sportinguista a gostar de viver as emoções no estádio. O sócio distante do estádio preocupa-me. Não encontro explicação para que o Sporting não meta mais gente em Alvalade...».
Apetece-me dizer como no velho adágio: «mais vale tarde que nunca». Mas digo mais. A razão para a «crise de militância», para o falhanço da «ligação emocional», foram estes anos de sucessivas “machadadas” na alma do adepto, na ligação que ele tinha ao clube e na forma como ele o sentia e se identificava. Foi a promessa falhada de 3 campeonatos em cada 5 anos, mas foi, sobretudo, o tratamento indigno (os exemplos seriam muitos) a que as sucessivas direcções votaram a massa associativa do Sporting que, ao frio, à chuva e ao sol, sofreu estoicamente enchendo o antigo estádio, vibrando a cada jogo decisivo, achando no mais fundo da alma sportinguista o ânimo para, segunda após segunda, mês após mês, Natal após Natal e época após época, encontrar sempre a esperança num ciclo melhor, descobrir sempre um optimismo renovado e a fé em tempos melhores, sofrendo na pele muitas desilusões provocadas pelo domínio obscuro e sub-reptício de um clube personificado por um presidente com quem Filipe Soares Franco negoceia, acha que tem relações de boa-fé (Moutinho e Vukcevic) e até dá grandes gargalhadas em pleno Alvalade...
Agora, esse adepto do Sporting deu um “basta” e, numa época em que todos os indicadores não o faziam esperar (manutenção dos jogadores principais, política de contratações coerente e objectivo claro e inequívoco da luta pelo título e boas possibilidades de melhor percurso nas competições europeias), os adeptos do Sporting souberam porque fica(ra)m em casa: porque lhes atiraram com demasiada água para a fogueira da sua paixão!
Filipe Soares Franco, apesar de não ter entendido (ou não ter querido entender) a razão para a «crise de militância», achando que «realizámos o projecto mas, até agora, não conseguimos fazer passar bem a mensagem de que queremos crescer», analisou na perfeição a situação que vivemos e extraiu a conclusão correcta quanto à responsabilidade por essa situação: «…da organização interna do Sporting, da direcção e, em última instância, do seu presidente»…
Quando Filipe Soares Franco fala em jogos ao meio-dia como uma iniciativa a experimentar, deveria dizer que ela lhe fora proposta por sócios do Sporting há mais de 1 ano. Quando Filipe Soares Franco fala em modalidades amadoras e pavilhão tentando mentalizar os sócios para não ter umas nem outro, deveria ter em mente algo muito importante para a avaliação da tal «crise de militância» - os sportinguistas não estão a pedir para lhes darem algo, os sportinguistas estão a exigir que lhes devolvam aquilo que lhes tiraram: a paixão por um clube ecléctico e de todos os sportinguistas sem distinção!
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